Estudo realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo (OAB SP), a Trybe, o Jusbrasil e o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), revelou um panorama abrangente sobre a adoção e percepção da Inteligência Artificial (IA) Generativa no setor jurídico. Com mais de 1.500 respostas coletadas em uma consulta online, o estudo destaca os perfis que utilizam essa tecnologia, os desafios enfrentados pelos profissionais e as oportunidades emergentes para o setor.
A iniciativa possibilitou a criação de um retrato do atual estágio de adoção da IA Generativa no setor jurídico brasileiro. O objetivo é direcionar os próximos passos para preparar profissionais e instituições para essa transformação digital que se acelera cada vez mais no setor jurídico.
Os dados apontam que 55,1% dos entrevistados já utilizam IA Generativa em suas atividades profissionais, principalmente para análise e resumo de documentos, criação de peças jurídicas e pesquisas de doutrina e jurisprudência. Segmentando por perfil profissional, 50% dos advogados autônomos, 62% dos advogados de escritórios ou empresas privadas e 63% dos operadores do Direito no setor público fazem uso regular da tecnologia.
“A chegada da IA Generativa está revolucionando a lógica de trabalho dos advogados, empresas de tecnologia e departamentos jurídicos. O desafio, agora, vai além de apoiar os profissionais do Direito: é entregar soluções que ampliem a inteligência jurídica, garantindo confiabilidade, checagem e valor agregado na tomada de decisão. Velocidade é importante, mas em nada serve se não for confiável”, analisa Luiz Paulo Pinho, co-founder do Jusbrasil.
Os profissionais que utilizam frequentemente a tecnologia destacam impactos positivos. Entre os entusiastas, 78% utilizam ferramentas de IA Generativa pelo menos uma vez por semana e percebem ganhos expressivos, como a redução do tempo gasto em tarefas repetitivas, a melhoria na qualidade dos documentos jurídicos e um aumento geral na produtividade das instituições e dos profissionais. Ao mesmo tempo, a pesquisa destaca desafios, como a necessidade de formação específica, questões éticas e regulatórias, e preocupações com segurança.
“A capacitação é um dos fatores fundamentais para a adoção da IA Generativa no Direito e, consequentemente, para a percepção positiva sobre a tecnologia. Dessa forma, capacitar os profissionais com as habilidades necessárias para redesenhar o trabalho com o apoio da IA, vai permitir que dediquem mais tempo ao que realmente importa: a complexidade da análise jurídica e a relação humana com clientes e sociedade”, frisa Matheus Ganem, diretor executivo da Trybe.
O levantamento também identificou diferentes perfis de profissionais em relação à IA Generativa, entre eles os usuários frequentes, que utilizam a tecnologia semanalmente; os profissionais sem ou com pouca adesão; além da identificação de perfis entusiastas, céticos e neutros em relação à tecnologia. Além disso, a maioria dos participantes tem mais de 35 anos (85%) – no qual 27,7% tem entre 45 e 54 anos, seguida pelos grupos de 35 a 44 anos (23%) e 55 a 64 anos (21,6%) – e está concentrada nos grandes centros urbanos. Em relação ao gênero, 56% dos respondentes são homens e 43% são mulheres.
“A pesquisa indica que o profissional do Direito reconhece tanto as externalidades positivas quanto as negativas associadas ao uso da IA no setor jurídico. Ainda assim, fica evidente que as possibilidades apresentadas pela tecnologia são valorizadas, indicando um cenário de otimismo que deve levar o profissional da área a buscar cada vez mais oportunidades de capacitação e aprimoramento”, pontua João Victor Archegas, coordenador de Direito no ITS Rio.
Desafios com a IA Generativa
Apesar dos benefícios apontados, o estudo também trouxe as preocupações dos profissionais. Questões éticas, como vieses nos algoritmos e subjetividade na análise de dados, foram apontadas por 45% dos usuários frequentes como um obstáculo relevante, enquanto 39% citaram inquietações com privacidade e segurança de dados. A resistência cultural também apareceu como uma barreira à adoção, sendo mencionada por 32% dos entrevistados desta categoria. Além disso, 44% dos usuários frequentes destacaram a falta de supervisão humana adequada como um risco, considerando que, para este tema, era possível marcar mais de uma alternativa na entrevista.
“O advogado não vai perder o trabalho para a inteligência artificial, mas é possível que perca mercado e espaço para advogados que utilizam essa tecnologia. E, por mais paradoxal que pareça, essa inovação fará com que os advogados se tornem mais humanos, exigindo o desenvolvimento mais profundo das habilidades e capacidades que os robôs não possuem”, conclui Leonardo Sica, Presidente da OAB SP.
Mais sobre a pesquisa
A pesquisa contou com mais de 1.500 participantes voluntários, abrangendo operadores do Direito de diversas regiões do Brasil. No entanto, a amostra não é estatisticamente representativa da totalidade dos profissionais da área. A divulgação realizada pelos canais das entidades organizadoras pode ter introduzido vieses, especialmente em relação à distribuição geográfica, ao nível de escolaridade e ao interesse pela tecnologia de IA Generativa. Como a participação foi espontânea, é provável que os respondentes já tenham maior engajamento com o tema, refletindo uma visão mais favorável à sua adoção. Assim, os resultados devem ser interpretados de forma relativa, considerando as limitações da amostra e os possíveis vieses metodológicos.
No entanto, o perfil dos respondentes se aproxima do primeiro estudo demográfico da advocacia brasileira, lançado no ano passado, produzido pela OAB Nacional com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nele, 55,3% dos entrevistados têm entre 24 e 44 anos, 23,7% entre 45 e 59 e 20,6% tem 60 anos ou mais. Além disso, a maioria (51,4%) dos advogados está concentrada na região sudeste do país, seguido pelo nordeste (16,8%) e sul (16,6%). Sobre o gênero, 50,4% são mulheres e 49%, homens.