Para além das aplicações advindas da integração com a internet, a TV 3.0 possibilitará a reutilização de um canal para transmissão de diferentes conteúdos de forma simultânea. Isso permitirá maior segmentação com base na geolocalização, afirma Luiz Fausto (foto), coordenador do Módulo Técnico do Fórum SBTVD. “Se a gente consegue isso quer dizer que podemos construir uma rede com um número indefinido de canais”, disse.
Os canais de televisão passam a mesma programação em uma área muito grande porque transmitir conteúdos diferentes gera interferência. Cidades vizinhas de grandes metrópoles acabam limitadas ao conteúdo das grandes cidades. A TV 3.0 também poderia resolver esse problema e fazer ainda mais segmentações dentro de um mesmo município.
No dia 5 deste mês, tiveram início os testes para definir quais as tecnologias serão utilizadas na implantação da TV 3.0. Por enquanto, apenas os requisitos estão definidos. A ideia é que a TV 3.0 funcione por meio de aplicações de cada emissora. Esses aplicativos transmitiram streamings de lives pelo ar e pela internet ou sob demanda apenas pela internet.
Os testes serão finalizados em 3 de dezembro com os resultados do desempenho das 32 tecnologias a serem analisadas, dentre elas a 5G broadcast. Caberá ao governo federal, com esses dados em mãos, decidir quais tecnologias concretizarão a TV 3.0. A previsão é de que essa tecnologia comece a chegar ao mercado em 2023.
Estão envolvidas nos testes sete universidades: Mackenzie, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Fluminense (UFF), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O Ministério das Comunicações está financiando os testes por meio do CNPQ.
O que esperar da TV 3.0
Um dos requisitos visados é a maior eficiência de espectro. A radiofusão precisará migrar para a banda Ku, mediante às disputas do espaço pelo setor de telecomunicações para acomodar a 5G. Assim, os esforços se direcionam para que a TV 3.0 precise de menos espaço adicional, embora ele ainda seja necessário.
Luiz Fausto classificou o desafio de abrir um espaço no espectro para a terceira geração de televisão como “possível”. Até porque a transição não acontecerá de uma só vez e as emissoras levaram certo tempo para se adequar à tencnologia. No entanto, em regiões com espectros de televisão congestionados isso significará um esforço maior de replanejamento.
Haverá também maior segmentação de programas e anúncios, não apenas geograficamente como explicitado acima, como também pelas preferências do usuário, o que demanda utilização massiva de dados. Assim como em um streaming, a customização poderá acontecer cruzando dados do armazenamento do histórico e de conteúdos que outros usuários acessaram.
O coordenador do Fórum SBTVD ressalta que o consumidor ainda poderá optar por assistir TV de forma anônima e que a utilização dos dados respeitará a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ou seja, para coletar dados, as emissoras deverão pedir autorização dos usuários e lhes informar sua finalidade. “O baseline é garantir que as pessoas sempre vão ter acesso a TV aberta gratuita”, disse. Resta ainda uma área no que diz respeito a aplicações pedirem o registro de usuários, e por conseguinte seus dados, para ter acesso a determinados conteúdos.
Novos modelos de negócio
A maior segmentação provocada pela transmissão de diferentes programações em um mesmo canal, abre espaço para novos perfis de anunciantes. Isso porque a personalização espacial responderia melhor às necessidades de negócios locais, que poderiam divulgar seu trabalho apenas na região.
Já na integração com a internet, “não existe um limite” para os modelos de negócio. Nesse caso, novos lotes de publicidade personalizados podem ser abertos. Além dos anúncios, a renda pode vir de assinaturas ou de um misto de propaganda e assinatura. Outra possibilidade é o T-commerce.
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