A operadora do primeiro cabo submarino a ligar a América do Sul diretamente à Europa vai mirar o mercado de games e de transmissão de eventos esportivos para ocupar toda a capacidade de seu cabo de 72 Tbps.
A previsão da empresa é de que a operação comercial da estrutura comece em junho, após inúmeros atrasos – a primeira previsão de quando o cabo foi idealizado, ainda em 2013, era de inicio de funcionamento em 2017.
Após uma crise com o governo brasileiro, que seria um dos financiadores do cabo através da Telebras, mas em 2020 anunciou a saída definitiva do negócio. Assim, o empreendimento foi integralmente financiado pelo Europe Investiment Bank, por bancos nacionais dos países pode onde o cabo passa, como Portugal e Espanha, além da Cabo Verde Telecom, Emacon e iniciativa Bella, que são clientes-âncora. Custou US$ 150 milhões, entre custos, contratos com landing stations, backhaul ligando-o aos principais data centers e pontos de troca de tráfego.
Segundo contou Vincent Gatineau, diretor de marketing e de vendas da EllaLink, em conversa com o Tele.Síntese na última semana, o atraso mais recente na implementação do cabo se deu ano passado. Embora a estrutura tivesse sido depositada no fundo do oceano, políticas de isolamento social e lockdown nas cidades de chegada adiaram a conexão definitiva e instalação dos equipamentos “em mais alguns meses”.
O cabo foi construído pela Alcatel-Lucent Submarine Networks e será iluminado com tecnologia da fabricante Infinera. No Brasil, chega à landing station de Fortaleza (CE) da Telxius, empresa de infraestrutura controlada pelo grupo Telefónica. Dali, os dados trafegam rumo a Rio de Janeiro e São Paulo pelo backbone da parceira.
Gatineau aposta na baixa latência para atrair os clientes dos dois lados do Oceano Atlântico. “Fortaleza está mais perto da Europa do que de Miami”, gosta de frisar. A seu ver, todo conteúdo que os brasileiros acessam de servidores existentes nos Estados Unidos estão espelhados na Europa, o que abre portas também para contratos com provedores de conteúdo via streaming, seja para a transmissão prioritária, seja para estabelecer redundância.
Capacidade, ainda há de sobra. Dos 72 Tbps, menos de 10% estão reservados aos clientes âncoras.
Segundo Gatineau, o cabo ainda desfruta da proposta inicial, de 2013, de ser uma rota direta entre Brasil e Europa sem passagem por servidores nos Estados Unidos. Naquele ano veio à tona o escândalo PRISM, em que o agente Edward Snowden desnudou práticas de espionagem do governo estadunidense em relação a chefes de estado – incluindo Dilma Rousseff, então presidenta do Brasil, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha.
Mas passou a ter novos pilares de vendas para além das comunicações seguras e dos diálogos de cibersegurança travados entre Brasil e Europa. “Temos a segurança da rota direta, a baixa latência, a diversidade de ser um cabo alternativo e a abertura a quaisquer interessados por sermos operadores neutros”, ressalta.
Entre os operadores internacionais que podem se beneficiar, lembra inclusive de chinesas que vêm sendo impedidas de estabelecer comunicações diretas com os EUA e, por isso, precisam de outras rotas para ter acesso à internet global.
O executivo conta ainda que a EllaLink não vai parar na ligação Brasil-Europa. O cabo foi construído já com diversas ramificações possíveis em mente. Haverá um ramal rumo ao Marrocos, outro para as Ilhas Canárias, mais um para a Mauritânia (já contratado), outro para a Guina Francesa. Na costa do Brasil, o cabo terá uma ramificação por mar para seguir até São Paulo. Todos os projetos são par ao futuro, ainda sem data prevista. O cabo tem uma vida útil estimada de 25 anos. Neste momento, o foco é total em passar de uma empresa que ainda não presta nenhum serviço em uma operação rentável.
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