Em alta, fusões entre empresas exigem integração de sistemas bem planejada

* Rodrigo Xavier 

A crise causada pela pandemia do coronavírus trouxe consequências econômicas que serão sentidas por muitos anos em todo o mundo. No Brasil, um dos efeitos foi a proliferação de oportunidades para grandes empresas comprarem concorrentes, como mostram dados do relatório M&A 2020, da PwC. Em 2020, o país bateu o recorde de fusões e aquisições dos últimos 27 anos, com 1.038 transações, superando o recorde anterior de 2019, com 912 negócios. Tecnologia da informação, serviços auxiliares, saúde, serviços públicos e financeiro foram os setores com mais transações. 

Na esteira do bom momento que vive o mercado de fusões e aquisições estão os provedores de tecnologia como catalisadores do processo de integração entre duas ou mais empresas. Mais do que nunca, esses fornecedores devem redobrar o cuidado com o planejamento da integração das rotinas de TI, sob risco de que os sistemas fiquem indisponíveis, informações se percam e dados sejam duplicados. Hoje, independentemente do mercado onde atuem, a relação das empresas com seus clientes é 100% baseada em tecnologia e os clientes são o ativo mais importante. 

O processo de integração quase sempre é bastante complexo, já que envolve sistemas, estruturas e culturas diferentes. E há também o fator humano: naturalmente, as pessoas têm medo quando há uma fusão, e principalmente uma aquisição. Afinal, do outro lado, podem existir profissionais com funções sobrepostas, o que pode levá-las a criar dificuldades para o acesso às informações. Por isso, é importante que o processo de integração dos sistemas de TI seja transparente e previamente comunicado pelas equipes de recursos humanos e cultura de ambas as empresas. Todo plano de integração deve sempre colocar o funcionário da empresa em primeiro lugar, que não deve sentir impacto com a transição e sempre ser transparente para o cliente final das empresas envolvidas. 

A implementação correta dos sistemas permite uma perspectiva unificada de todos os dados, conferindo uma visão ágil às informações que antes eram dispersas. Mais do que isso, essa arquitetura também possibilita que a “nova empresa” aproveite essas informações em diversas iniciativas digitais com um olhar bem mais integrado dos seus clientes finais. 

Uma história de caso bem-sucedido foi a fusão da Kroton Educacional com a Anhanguera Educacional, em 2013. Após a fusão, a gigante da educação privada passou a contabilizar mais de um milhão de alunos, sendo que nenhum deles foi afetado pela integração dos sistemas das companhias. 

Outro caso de destaque vem da área de saúde, cuja mínima indisponibilidade dos sistemas pode trazer sérias consequências. A fusão da Hapvida e o Grupo NotreDame/Intermédica, duas das maiores operadoras de planos de saúde do país, anunciada em fevereiro, deu origem a uma companhia com mais de 15 mil funcionários e 13,6 milhões de vidas que, através de um planejamento de integração de TI escalonado e equipes competentes e engajadas, não podem sentir impactos com a integração dos sistemas. Quando há vidas em jogo, não há margem para erros, já que uma integração mal conduzida pode comprometer as rotinas de atendimento e procedimentos de dezenas de hospitais. 

Já um notório exemplo de integração mal executado após um processo de fusão de companhias aconteceu em 2016 na indústria de cosméticos. Após desembolsar 419 milhões de dólares para adquirir a centenária marca Elizabeth Arden, a Revlon deu início ao processo de integração/migração dos sistemas. Enquanto a Elizabeth Arden utilizava uma tecnologia específica, a Revlon confiava seus sistemas à outro fornecedor. No plano de integração, foi feita uma desastrosa escolha de migração das duas empresas para um terceiro sistema de ERP, que era “desconhecido” por ambas. 

Prematuro, o lançamento deste terceiro sistema integrado, foi um fiasco e acabou sabotando a própria fábrica da Revlon na Carolina do Norte, resultando em milhões de dólares em vendas perdidas. A empresa culpou a falta de especificações e processos eficazes na implementação pelo desastre e observou que as interrupções relacionadas ao novo ERP acarretaram taxas erradas e outras despesas imprevistas aos clientes até que os problemas fossem resolvidos. A crise derrubou as ações da Revlon e fez com que os próprios acionistas processarem a empresa. Um prejuízo financeiro e de imagem para a Companhia. 

Quando acionistas projetam fusões ou aquisições, buscam essencialmente pela troca de sinergias, otimização de estruturas e redução de custos com o objetivo de aumento de eficiência operacional, qualidade e competitividade para atender aos clientes finais. Processos de aquisições representam consolidação e muita inovação é gerada nesses negócios, a partir mesmo da própria integração dos sistemas, aumentando o valor da operação para os acionistas. No fim do dia, isso gera melhores serviços e novos produtos para os consumidores, traz oportunidade para empresas especializadas em diversos segmentos (tecnologia, consultoria, M&A, processos, etc.). A expectativa é que haja um aumento significativo também em 2021 em relação a estes processos de fusão e aquisição no mercado em geral. 


* Rodrigo Xavier é diretor de estratégia e inovação da V8 Consulting, especializada em soluções e serviços de TI. 

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