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A Telefônica Brasil (VIVT3), controladora da operadora Vivo, viu suas ações desabarem 7,29% nesta quarta-feira (26), chegando a R$ 49,59. O tombo ocorre um dia após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2024, que, apesar de mostrarem um crescimento de 10,1% no lucro líquido, não convenceram o mercado.
O relatório foi recebido com ceticismo por grandes bancos de investimento. O JPMorgan destacou que os números vieram fracos, com uma queda na margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorrente, que ficou em 39,9%, abaixo da expectativa de 41,5%. Segundo o banco, o Ebitda também ficou abaixo do esperado, evidenciando uma deterioração no desempenho operacional da empresa.
Outro ponto de atenção foi a migração da concessão para autorização no setor de telefonia fixa. A Vivo apresentou mais detalhes sobre o processo, que envolve a venda de ativos como cobre e imóveis. No entanto, analistas alertam que as receitas geradas pelos clientes da concessão ainda registram um fluxo de caixa negativo, o que aumenta as incertezas sobre o impacto real da transição.
O JPMorgan manteve sua recomendação neutra para VIVT3, com preço-alvo de R$ 46, reforçando que a divulgação de mais detalhes sobre a migração não deve alterar a percepção negativa do mercado. O Goldman Sachs também avaliou os resultados como mistos: embora a receita tenha ficado dentro das estimativas, o lucro líquido e o Ebitda ajustado ficaram abaixo do esperado.
O Bradesco BBI foi outro banco que demonstrou preocupação com os números da Telefônica Brasil. Apesar de a receita, o Ebitda e o lucro líquido terem superado o consenso, os fatores que impulsionaram esse desempenho não foram considerados ideais. A receita móvel caiu 1% e desacelerou mais rápido do que o previsto, o que levanta dúvidas sobre a capacidade da Vivo de manter o crescimento sustentável no longo prazo.
Por outro lado, o BTG Pactual vê oportunidades na migração da concessão. O banco estima que a empresa pode se beneficiar da transição ao migrar 1,2 milhão de clientes de cobre para outras tecnologias, reduzindo custos com infraestrutura e melhorando a qualidade dos serviços. Além disso, a venda de cobre e imóveis pode gerar receitas extraordinárias. Mesmo assim, o BTG alerta que os investidores esperavam um impacto positivo mais expressivo nos números já apresentados.
A adaptação da outorga da concessão para autorização exige compromissos de investimento, o que pode limitar o potencial de geração de caixa da empresa nos próximos anos. A Telefônica Brasil estima um valor presente líquido de R$ 4,5 bilhões para a transição, mas alguns analistas acreditam que esse montante pode ser menor, dependendo das sinergias geradas pela mudança.
O mercado também avalia como a empresa lidará com a desaceleração na receita móvel. O ARPU (receita média por cliente) do pós-pago veio abaixo do esperado, um sinal de que a Vivo pode enfrentar dificuldades para aumentar seu faturamento sem pressionar ainda mais a rentabilidade.
Diante do cenário atual, o mercado mantém cautela em relação às ações da Telefônica|Vivo. O Bradesco BBI segue recomendando compra, com preço-alvo de R$ 60, considerando um retorno total de 20% (12% de potencial valorização e 8% de dividend yield). Já o Goldman Sachs manteve a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 53,50, enquanto o BTG Pactual fixou um valor-alvo mais otimista, de R$ 62.
Mesmo com o forte tombo de hoje, analistas ressaltam que a Vivo continua sendo uma opção defensiva para investidores de longo prazo, especialmente em um mercado mais volátil. O setor de telecomunicações é conhecido por sua estabilidade e forte geração de caixa, fatores que podem sustentar a atratividade do papel no futuro. No entanto, o curto prazo segue desafiador, com a empresa precisando convencer o mercado de que sua estratégia de migração da concessão será de fato benéfica para os acionistas.