A relação entre inteligência e questionamentos profundos é amplamente reconhecida. Mas e se o medo da morte fosse, na realidade, um sinal precoce de uma mente excepcional? Essa foi a hipótese central de um dos meus estudos, cujos resultados indicam uma conexão significativa: crianças que, desde muito cedo, demonstram uma preocupação intensa com a finitude e os riscos da vida tendem a apresentar um quociente intelectual elevado e, em muitos casos, traços de dupla excepcionalidade.
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Minha observação começou dentro de casa ao notar que meu filho de cinco anos frequentemente demonstrava um temor atípico sobre a morte e situações de risco. Paralelamente, relatos como os do ator Keanu Reeves, que desde cedo refletia obsessivamente sobre a própria mortalidade, reforçaram minha curiosidade. Para aprofundar a investigação, lancei uma enquete no grupo Gifted debate, uma comunidade de mais de 500 superdotados, e a maioria quase absoluta dos membros confirmou ter vivenciado essa mesma angústia a partir da infância ou adolescência.
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Pela revisão bibliográfica, a literatura revelou um padrão. Crianças altamente inteligentes tendem a ter uma consciência existencial aguçada, compreendendo conceitos abstratos como finitude e fragilidade humana muito antes da maioria. A literatura sobre superdotação já aponta que indivíduos com QI elevado frequentemente demonstram uma sensibilidade emocional intensa e uma percepção ampliada da realidade – características que podem fazer com que o medo da morte se manifeste de maneira precoce e persistente.
Se, durante a evolução, o instinto de autopreservação garantiu a sobrevivência da espécie, em indivíduos com quociente intelectual elevado esse mecanismo parece se manifestar de forma mais intensa, tornando-os mais cautelosos, hiperconscientes e, muitas vezes, ansiosos diante do desconhecido. É uma linha tênue entre inteligência e angústia.
A conclusão do meu estudo sugere que essa relação não deve ser vista como uma simples coincidência, mas sim como um reflexo de como mentes inteligentes percebem o mundo. Se uma criança se preocupa constantemente com a morte, talvez ela não precise apenas de conforto, mas também de estímulos adequados para sua forma única de interpretar a vida.