A revisão de uma coleção de manuscritos árabes guardados desde o século XVII em gavetas da Universidade de Leiden, na Holanda, resultou na descoberta de duas obras perdidas de Apolônio de Perga, matemático grego que viveu entre os anos 262 a.C. e 190 a.C. nas cidades de Alexandria, Éfeso e Perga. Elas fazem parte da sua principal produção.
Conforme anunciou a instituição de ensino holandesa na semana passada, trata-se dos livros 5 e 7 das “Cônicas de Apolônio”, considerada uma das obras mais profundas da matemática grega antiga. O trabalho, publicado pelo “Grande Geômetra” em 200 a.C., aborda a teoria das elipses, parábolas e hipérboles, introduzindo tais conceitos ao mundo da matemática.
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Ele é composto por um total de oito volumes, mas até então acreditava-se que só os primeiros quatro livros haviam sobrevivido, sendo registrados por estudiosos europeus durante o Renascimento. Com a descoberta mais recente, faltam apenas dois volumes para o acesso completo à obra clássica.
“Manuscritos árabes em bibliotecas ocidentais como as Bibliotecas da Universidade de Leiden servem como registros inestimáveis das realizações intelectuais da civilização islâmica, especialmente em matemática e geometria”, destacou o professor de análise numérica e modelagem matemática da Universidade de Sharjah, Mostafa Zahri, nos Emirados Árabes Unidos, em comunicado.
Como os livros perdidos chegaram à Holanda?
A coleção de manuscritos recuperados agora, que inclui as obras perdidas de Apolônio, foi adquirida pelo orientalista e matemático holandês Jacob Golius durante suas viagens ao Oriente Médio, no século XVII. Ela faz parte de um volume ainda maior, de 200 manuscritos, que pertence à Universidade de Leiden.
O material inclui uma série de tratados sobre astronomia, biologia e matemática, entre os quais se destaca uma enciclopédia chamada “Livro das Perfeições”. Ela conta com vários textos fantasiosos, mencionando lugares em que “as pessoas podem ter braços onde temos nossos ouvidos”, por exemplo.
Também chamou a atenção dos pesquisadores um texto em que cientistas muçulmanos resolveram um quebra-cabeça de geometria grega antiga quase 500 anos antes da solução para o problema ter surgido na Europa. No mesmo trabalho, eles determinaram as coordenadas geográficas de 160 cidades com um alto grau de precisão.