A digitalização acelerada da sociedade transformou radicalmente a forma como interagimos com serviços, produtos e pessoas. Hoje, vivemos em um ecossistema conectado o tempo todo, onde dispositivos móveis, aplicativos, pagamentos eletrônicos e biometria fazem parte do cotidiano. Contudo, tal evolução trouxe desafios significativos: à medida que buscamos experiências digitais mais simples e fluidas, nos deparamos com dificuldades relacionadas à autenticação digital, preocupações com segurança e um número crescente de fraudes. Diante desse cenário, como encontrar um equilíbrio entre a segurança dos processos digitais e a demanda por uma jornada do cliente descomplicada e intuitiva?
O principal desafio é validar identidades com segurança sem prejudicar a experiência do usuário. Atualmente, os consumidores precisam passar por várias etapas de autenticação—criando senhas, confirmando códigos e repetindo verificações—, o que pode ser frustrante e, em muitos casos, levar ao abandono e desinteresse no meio do caminho. Para as empresas, essa dificuldade se traduz em desistências de compras, desafios no gerenciamento de dados e altos custos com prevenção de fraudes.
Assim, surge a Identidade Digital Reutilizável (IDR), que pode reformular o modo como nos identificamos no ambiente digital. Inspirada nos conceitos de Identidade Digital Descentralizada (DiD), a IDR permite que os usuários possuam uma identidade validada e reutilizável, reduzindo a necessidade de fornecer informações sensíveis repetidamente. Esse modelo assemelha-se a um passaporte digital, permitindo ao usuário acessar diversos serviços sem a necessidade de criar contas ou repetir processos de autenticação. A IDR é constituída por credenciais verificáveis, descentralizadas e armazenadas em uma carteira digital segura. Quando o usuário precisar se autenticar em um novo serviço, poderá utilizar essa identidade já validada, evitando o fornecimento repetitivo de informações sensíveis. Isso torna a experiência mais fluida e segura, além de dificultar fraudes e vazamentos de dados.
Empresas e organizações internacionais já demonstram interesse nesse conceito. Um estudo realizado pela Juniper Research indicou que o mercado de identidade digital deverá movimentar US$ 53 bilhões até 2026, impulsionado pelo crescente uso de credenciais verificáveis e carteiras digitais. No Brasil, o gov.br exemplifica uma iniciativa pública que oferece aos cidadãos acesso a diversos serviços por meio de uma única identidade digital. No setor privado, empresas como IDwall, Unico e ClearSale lideram soluções voltadas à segurança digital e autenticação.
O impacto da IDR vai além da simplificação de processos. A tecnologia desempenha um papel essencial no combate às fraudes, tornando a validação de identidade mais segura e menos dependente de senhas fáceis de quebrar. Com soluções descentralizadas, torna-se mais difícil para golpistas explorarem vulnerabilidades. O blockchain, por exemplo, garante que cada verificação de identidade seja registrada de forma permanente e transparente, aumentando a confiança no sistema.
Ainda assim, os desafios persistem e precisam ser enfrentados. A adoção da IDR requer padronização entre diferentes setores, investimentos em infraestrutura e uma mudança de mentalidade por parte de empresas e consumidores. O sucesso dessa implementação dependerá do alinhamento entre reguladores, provedores de tecnologia e usuários, garantindo um ecossistema seguro e acessível.
O futuro da identidade digital caminha para um ambiente tokenizado e baseado em interações automatizadas. Com a ascensão da inteligência artificial e dos assistentes digitais, novas questões surgem: como garantir que um agente automatizado esteja realmente autorizado a agir em nosso nome? A resposta está na evolução da IDR, que permitirá a autenticação segura não apenas de pessoas, mas também de sistemas e agentes de inteligência artificial.
Diante desse panorama, é essencial que as empresas adotem uma abordagem estratégica, aliando segurança e experiência do cliente. A IDR representa um passo importante nessa direção, criando um caminho para um ecossistema digital mais confiável, eficiente e centrado no usuário. O futuro já está sendo construído.
Marcelo Queiroz, Head de Estratégias e Novos Negócios da ClearSale.