Os choques econômicos dos últimos anos, como a pandemia, aumentaram o gasto público em todo o mundo. O alto nível de endividamento foi destacado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em projeção recente que aponta, em nível global, para 115% de dívida pública em relação ao PIB sendo atingida em 2026. Esse é um dos principais riscos para os governos do mundo inteiro, de acordo com o estudo “10 principais riscos para o governo e o setor público em 2025”, elaborado pela EY. O Brasil fechou 2024 com a dívida bruta em 76,1% do PIB, alta de 2,2 pontos percentuais no acumulado do ano, de acordo com o Banco Central. Em dezembro, o saldo da dívida bruta ficou em R$ 9 trilhões. No fechamento de 2023, a dívida bruta brasileira estava em 73,8% do PIB.
Esse cenário, agravado pelos juros altos para rolagem da dívida, pode ameaçar uma série de investimentos, comprometendo o crescimento a médio prazo do país. Setores como infraestrutura costumam receber elevado volume de investimento público. Nesse contexto, para evitar uma situação de crise fiscal, os governos, ainda segundo o estudo da EY, precisam tomar decisões difíceis voltadas para a priorização de investimentos e melhor alocação de recursos, o que pode incluir o corte de despesas não obrigatórias.
Outro risco relevante mencionado é de ataques cibernéticos, o que pode resultar no vazamento e/ou acesso indevido aos dados dos cidadãos, incluindo aqueles considerados sensíveis como os de saúde. A infraestrutura tecnológica que hospeda os bancos de dados, que se caracteriza, por exemplo, por sistemas isolados, torna o setor público vulnerável a ataques cibernéticos.
Essa ameaça deve se fortalecer com o avanço das tecnologias de IA e computação quântica. É urgente, ainda segundo o estudo, que as instituições públicas adotem serviços baseados em nuvem, atualizando sua infraestrutura para os desafios presentes. Faz parte desse trabalho contratar profissionais de segurança cibernética especializados em nuvem, além de aumentar a resiliência digital e cibernética dos funcionários públicos, por meio do investimento em treinamento para gestão de riscos.
Mudanças climáticas
Além desses dois riscos, o estudo da EY aponta como risco a incapacidade de os governos transformarem em realidade os planos de combate às mudanças climáticas. Na medida em que muitos governos criaram políticas de ação climática e regulações nesse sentido que entram em vigor neste ano e nos próximos, é importante que o setor público tome a liderança desse processo e dê o exemplo. “A COP30 em novembro no Brasil será mais uma oportunidade para que os governos demonstrem seu comprometimento com essas iniciativas, que estão sendo menos efetivas do que exige a urgência dos desafios impostos ao mundo”, diz Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina.
Quase oito a cada dez consumidores (77%), de acordo com o estudo Future Consumer Index (FCI), elaborado pela EY, acreditam que é responsabilidade do governo obter melhores resultados sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, somente 34% dos entrevistados acreditam que o governo está tomando ações suficientes nesse sentido.
“Conectado a esse risco está a dificuldade do governo de responder adequadamente aos choques causados pelas mudanças climáticas. Os países estão tentando responder efetivamente a esses riscos e aos recursos naturais cada vez mais escassos. Sua capacidade de resposta vai definir se haverá mais ou menos conflitos, fome e movimentos migratórios. Como parte desses esforços, os governos precisam atuar na resiliência das suas cidades, integrando o risco climático ao orçamento público”, finaliza Ricardo.
