Filmes baseados em histórias reais e narrativas envolvendo questões raciais são figurinhas carimbadas no Oscar e em diversas premiações — principalmente após 2015, quando um grande movimento pró-diversidade começou a afetar a Academia. Em 2025, em uma das edições mais diversas do evento até então, o filme que representa essa “categoria” é Nickel Boys, chamado no Brasil de O Reformatório Nickel.
Indicado nas categorias de Melhor Filme e Roteiro Adaptado, o longa encanta já no seu trailer, pois traz uma grande diferença em relação aos rivais: a câmera em primeira pessoa. Toda a narrativa é mostrada sob o ponto de vista de dois personagens, acompanhando sua vida e rotina no reformatório que dá título à história.
O filme dirigido por RaMell Ross é o único entre os indicados a Melhor Filme este ano que não chega aos cinemas brasileiros. No entanto, a obra chegou no Prime Video na quinta-feira, 27, dando a chance de o público conhecer a sua história e garantir uma torcida na premiação.
Apesar de trazer uma história inspirada em fatos que aconteceram nos Estados Unidos, o longa certamente pode gerar identificação com os brasileiros. Na verdade, a obra até possui similaridades com Ainda Estou Aqui, filme nacional que também está concorrendo à principal estatueta do Oscar.
Uma triste história contada em primeira pessoa
Nickel Boys mostra que é um filme diferente logo em seus primeiros segundos. Adotando uma perspectiva em primeira pessoa, a obra começa acompanhando o crescimento do protagonista Elwood, nos anos 60, trazendo detalhes sobre sua criação com a avó, seu futuro promissor como estudante e as injustiças que o levam até o Reformatório Nickel, que serve como grande pano de fundo da história.
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Ambientado na Flórida durante a segregação racial dos Estados Unidos, o longa mostra o funcionamento da instituição sob os olhos de dois estudantes, o já mencionado Elwood e seu novo amigo Turner, que também está retido no local. Com a visão dos olhos dos personagens, acompanhamos os horrores causados pela divisão entre pretos e brancos na época.
O filme traz uma narrativa repleta de momentos tristes e pesados, mas que são dosados pela perspectiva em primeira pessoa para evitar imagens muito violentas e apelativas. Como vemos tudo pelos olhos dos protagonistas jovens, é possível sentir um certo tom de esperança no ambiente hostil.
A perspectiva adotada pelo diretor, além da montagem da linha do tempo, rende um ritmo interessante para o filme, com surpresas no roteiro do início ao fim. A câmera em primeira pessoa também confere um tom artístico ímpar ao longa, resultando em belas imagens e mostrando que a solução funciona muito bem para filmes, além de outras mídias como o videogame.
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Mesmo sem vermos o rosto do protagonista, o filme também é marcado por atuações memoráveis de Ethan Herisse e Brandon Wilson. A obra impressiona por mostrar como é possível passar emoções mesmo sem aparecer na tela, provando que a câmera vai muito além de um aparato técnico.
Mais do que um filme de qualidade, que merece as indicações que recebeu, Nickel Boys também é uma grande conquista técnica. Enquanto a câmera normalmente serve como os olhos do público e a visão do diretor, é muito bom termos um filme em destaque mudando essa rotina.
O Ainda Estou Aqui dos Estados Unidos
Além de um filme tecnicamente bem feito, Nickel Boys também merece a atenção dos brasileiros por sua similaridade com um longa nacional que está em alta, Ainda Estou Aqui. A produção de Walter Salles ganhou o mundo ao contar a história de Eunice Paiva, que lutou para descobrir a verdade sobre a morte de seu marido na Ditadura Militar brasileira.
Apesar do contexto diferente, Nickel Boys também é um filme sobre segredos escondidos. Baseado em um local que realmente existiu, o longa mostra que o reformatório da Flórida escondia crimes horrendos envolvendo os jovens negros do local em meio à segregação dos Estados Unidos.
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Assim como em Ainda Estou Aqui, o filme possui um sentimento de injustiça que permeia a narrativa. No entanto, seu final mostra que é possível seguir em frente mesmo após eventos traumáticos que marcam a vida para sempre.
Na corrida do Oscar 2025, ouso dizer que Nickel Boys e Ainda Estou Aqui são justamente os filmes mais importantes da premiação, socialmente falando. Afinal, por meio de uma história bem contada, ambos mostram que injustiças acontecem e podem sair impunes mesmo após anos.
Muitos brasileiros rivalizam Ainda Estou Aqui com o longa Emilia Perez por questões de polêmica e “raízes latinas”. No entanto, seria muito interessante ver o público do país usando seu poder de viralização para espalhar a palavra de Nickel Boys, pois uma história como essa certamente poderia ter acontecido no Brasil.
O Reformatório Nickel já está disponível para streaming no Prime Video.