Dei play em Anora sabendo apenas o básico sobre a trama e sua trajetória na temporada de premiações. O longa acompanha uma profissional do sexo que se casa com um jovem milionário russo e rapidamente vê sua vida virando de cabeça para baixo. A produção é dirigida e escrita por Sean Baker, mas o engraçado mesmo é que não é preciso saber disso previamente para perceber que o filme claramente é comandado por um homem.
Abraçando todo o potencial do Male Gaze, o cineasta estadunidense decidiu fazer um filme protagonizado por uma mulher, mas em momento algum pensou em dar “vida” à personagem – deixando o título mais vazio do que as várias cenas de sexo e nudez desnecessárias do início do longa.
- Confira a Tabela do Oscar 2025: onde assistir aos filmes na Planilha do Minha Série
Mas vamos do início. Bastante elogiado pela crítica, Anora vem conquistando o público nos últimos meses. Foi após vencer a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes do ano passado que o hype do filme cresceu em mim e se tornou um dos indicados ao Oscar que eu mais estava ansiosa para assistir.
Na trama, somos apresentadas a Ani, uma stripper de 23 anos que conhece Vanya, filho de um oligarca russo, na boate em que trabalha. Após alguns dias juntos, os dois decidem se casar em Las Vegas e Ani passa a viver seu conto de fadas moderno. O problema começa quando os pais de Vanya descobrem e decidem acabar com o relacionamento dos dois.
Anora é uma aula de “olhar masculino” em filmes
Na primeira meia hora, fiquei aguardando o momento em que o filme mostraria todo o potencial que as críticas vinham apontando, mas infelizmente a expectativa não foi suprida ao longo das duas horas restantes. A experiência já começa com um gostinho agridoce, com o filme exibindo várias cenas de nudez de Anora – até aí ok, eu pensei, o roteiro quer apenas contextualizar o trabalho da personagem.
E para aqueles que se perguntam se é possível apresentar uma narrativa carregada de erotismo e sexo sem objetificar corpos das atrizes e suas personagens eu respondo com um exemplo recente: Babygirl, dirigido e escrito por Halina Reijn, consegue passar a mensagem de fetiche e erotismo sem extrapolar na tela.
Voltando ao enredo, logo somos levados a outra questão. Mesmo o título levando o nome da personagem principal, o filme em momento algum se aprofunda na personagem. Suas motivações, desejos, sentimentos e até seu ponto de vista ficam de escanteio o tempo todo. Afinal, ela realmente gostou de Vanya? Quais eram os seus sonhos? Como era a sua personalidade além de ser uma garota desbocada e aparentemente agressiva? A produção termina sem nos dar o básico.
- Leia também: Quem vence o Oscar 2025, de acordo com a IA? Veja “opinião” de Deepseek, ChatGPT e Gemini
Sua história é toda contada da perspectiva de outros homens da trama. Primeiro, de Vanya, depois, de Igor. Ambos interpretados como possíveis salvadores de Anora – no primeiro caso, dando a Ani a vida de luxo que ela merecia e, no segundo caso, por enxergá-la como ela realmente é, por debaixo da “máscara”. Ou seja, o desenvolvimento da protagonista é baseado praticamente na forma como outros a veem.
Felizmente, a ótima atuação de Mikey Madison salva Anora de ser algo puramente unidimensional, já que o filme é tudo aquilo que se pode esperar de um homem dirigindo uma história focada em uma mulher.
Anora continua em cartaz nos cinemas brasileiros. Comente nas redes sociais do Minha Série! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e até mesmo no WhatsApp. Venha acompanhar filmes e séries com a gente!