Um dado alarmante divulgado pelo Sebrae revela que quase 60% dos empreendedores brasileiros não realizam qualquer tipo de planejamento financeiro de longo prazo. Esse cenário expõe uma vulnerabilidade no ecossistema de negócios do país, especialmente em um ambiente já marcado por desafios como alta carga tributária, volatilidade econômica e falta de acesso ao crédito. A ausência de planejamento coloca em risco a sustentabilidade de micro e pequenas empresas, que representam cerca de 99% dos negócios formais no Brasil e são responsáveis por aproximadamente 30% do PIB nacional, de acordo com dados do Ministério da Economia.
Esse dado mostra uma mentalidade que, embora compreensível em função das dificuldades de curto prazo enfrentadas pelos empreendedores, precisa ser transformada. Muitos gestores acabam priorizando questões imediatas, como fluxo de caixa e despesas operacionais, negligenciando investimentos em produtos de rendimento ou estratégias que poderiam fortalecer a saúde financeira da empresa no futuro. Essa visão limitada compromete não apenas a expansão dos negócios, mas também sua sobrevivência em momentos de crise.
Uma possível solução está no uso de ferramentas e produtos financeiros acessíveis que permitam rendimentos constantes e segurança de capital. Embora muitos donos de negócios associem esses produtos a grandes empresas ou investidores institucionais, eles podem ser adaptados à realidade de pequenas empresas. Desde aplicações de baixo risco até fundos mais diversificados, o mercado tem opções que, se bem utilizadas, ajudam a mitigar riscos e criar reservas para períodos de baixa ou oportunidades de crescimento.
Outro aspecto essencial é a educação financeira. Muitos empresários ainda enfrentam dificuldade em compreender conceitos básicos como taxa de retorno, inflação ou fluxo de caixa. Políticas públicas e iniciativas privadas voltadas à capacitação financeira poderiam desempenhar um papel crucial na mudança desse cenário. O empreendedor que entende os benefícios do planejamento estratégico está mais preparado para tomar decisões assertivas, independente do tamanho do seu negócio.
O planejamento financeiro de longo prazo não é apenas uma questão técnica, mas também cultural, por isso, incorporar essa prática exige uma mudança de mindset, onde o foco deixa de ser exclusivamente o presente para incluir projeções futuras. As organizações que adotam essa visão não apenas sobrevivem às oscilações do mercado, mas também se posicionam de forma mais competitiva e inovadora. Nesse sentido, uma abordagem mais robusta ao planejamento financeiro é um diferencial estratégico.
Se o Brasil deseja consolidar um ambiente de negócios mais resiliente, é imprescindível que o planejamento de longo prazo seja uma prioridade para empreendedores. Não se trata apenas de números, mas de construir bases sólidas para o crescimento sustentável. O dado da pesquisa citada serve como um alerta: é hora de os empresários repensarem sua relação com as finanças, deixando de lado o improviso e abraçando uma gestão mais estratégica e informada.
Rebecca Fischer, cofundadora da Divibank.