Uma das minhas séries favoritas acabou de ter sua quarta temporada finalizada e exibida com sucesso no streaming. O desfecho deixou aquele gostinho de quero mais que deixa os ansiosos apreensivos e pensando “e agora? Quando vou assistir à continuação?”.
Bom, considerando o cenário atual, não é preciso ser especialista ou parte da equipe de produção para afirmar com 99% de certeza: provavelmente vou assistir os novos episódios da série em pelo menos dois ou três anos.
A impressão é que, nos últimos anos, as séries estão ultrapassando os limites de tempo aceitável para fazer os espectadores esperarem entre uma temporada e outra.
A segunda temporada de Euphoria estreou mais de dois anos atrás e as gravações da terceira ainda nem começaram
Exemplos recentes não faltam. Euphoria começará as gravações da terceira temporada em janeiro de 2025, cerca de três anos desde o lançamento da segunda. Detalhe: se as gravações começam em janeiro, é bastante provável que a temporada seja lançada só no final do ano ou já em 2026.
Ruptura, hit da Apple TV+ lançada em 2022, terá sua segunda temporada estreando em janeiro de 2025, quase três anos após o lançamento.
Outro exemplo bastante citado quando entramos nesse assunto é Stranger Things, que começou a chamar atenção devido a idade dos atores principais. A cada temporada, ficava mais evidente que as crianças da série já não eram mais tão crianças na vida real – o assunto, inclusive, rende memes nas redes sociais a cada nova temporada lançada.
os atores na 5a temporada de Stranger Things pic.twitter.com/0oRxx84BFd
— a poc do mes (@pocnojenta) May 27, 2022
Por outro lado, enquanto o tempo de espera dos fãs vem ficando maior, as temporadas estão ficando cada vez mais curtas. Atualmente, o mais comum é encontrar séries com cerca de dez episódios e duração de mais ou menos uma hora por capítulo.
Antigamente, porém, a história era outra. Temporadas com mais de 20 episódios eram o mais comum na TV aberta e nos canais a cabo, independente do gênero, desde sitcoms aos dramas.
Lançada em 1991 pela NBC, a série Law & Order tinha temporadas com 22 capítulos; Supernatural, da CW chegou a ter temporadas com 23; e a comédia da CBS The Big Bang Theory alcançava 24 episódios todos os anos. Mas o que gerou essa mudança?
A greve de 2008 e a chegada dos streamings
Primeiro, é preciso lembrar da greve do roteiristas de Hollywood em 2007, que durou pouco mais de dois meses e impactou inúmeras produções de sucesso na época. The Office, Grey’s Anatomy, 30 Rock e Breaking Bad foram alguns dos títulos televisivos mais afetados, já que precisaram reduzir o número de episódios da temporada em exibição. E tudo de última hora mesmo.
O quarto ano de Lost, por exemplo, originalmente teria 16 episódios, mas a equipe precisou reduzir esse número para 13. O mesmo aconteceu com Grey’s Anatomy, que teria 23 capítulos e recebeu apenas 19.
No fim das contas, embora várias séries tenham sido encurtadas, isso não parece ter prejudicado a qualidade delas (pelo menos, não de todas). Muitos profissionais e, principalmente, canais de TV, viram que nem sempre a quantidade dita a qualidade, já que várias dessas séries tiveram bom desempenho narrativo mesmo com poucos episódios.
Já na década de 2010, a chegada da Netflix mudou a forma de fazer TV. As primeiras séries originais do streaming, House of Cards e Orange is the New Black, chegaram com apenas 13 episódios cada uma e foram muito bem recebidas pelos usuários.
House of Cards, considerada primeira série original da Netflix, chegou ao streaming com todos os 13 episódios de uma vez só – prática inédita na época
Seguindo a Netflix, outros streamings, como o Prime Video e o Hulu (nos EUA), também entraram na onda de séries originais curtas.
Aqui, vale ressaltar que as redes de TV a cabo, como HBO e AMC, já tinham o hábito de produzir temporadas de 10 a 13 episódios. A ascensão dos streamings, no entanto, tornou a prática mais comum.
Vantagens de séries menores
Falando em lucro, as temporadas mais curtas representam menor risco para as redes de televisão e para o streaming. Isso porque se a série for um fracasso, o valor e o tempo investidos serão menores do que seria em uma série com mais de 20 episódios.
Em entrevista recente ao Vulture, o presidente e gerente geral da rede AMC e Sundance TV, Charlie Collier, confirmou a influência do streaming na nova moda.
“Obviamente, ainda há um grande incentivo das redes de TV para encontrar grandes sucessos que produzam 100 ou mais episódios – a próxima geração de Law & Order ou Modern Family, por exemplo. Mas a economia do streaming provou que é possível ganhar dinheiro com programas menores.”
Além disso, criativamente falando, podemos dizer que as séries menores saem ganhando no quesito “enrolação”. Isso porque, com menos tempo de tela, o roteiro precisa se concentrar no que realmente importa e garantir que cada pequeno momento traga um detalhe importante para a trama.
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Com isso, os produtores também podem garantir episódios mais elaborados, com maiores orçamentos. Exemplo disso é a série The Last of Us, que gastou salgados US$ 11 milhões por capítulo.
Mas por que demora tanto para estrear?
Tá, já entendemos o motivo por trás do número de episódios, mas e essa demora toda entre as temporadas? O que explica?
As séries estão mais ambiciosas e mais caras
Seguindo no exemplo de The Last of Us, é de se imaginar que a produção desses episódios (na maioria das vezes com pouco mais de uma hora cada) não pode ser considerada simples. Bons roteiros levam tempo, assim como as gravações e, principalmente, a pós-produção.
Game of Thrones tinha janela de dois anos de espera entre as temporadas
Uma prova disso é que os produtores de Game of Thrones diziam ser “fisicamente impossível” produzir mais de 10 episódios por temporada da série e diminuir a janela de espera entre elas. Isso porque o elenco passava meses gravando em várias partes do mundo e a pós-produção ainda envolvia efeitos visuais elaborados que podiam levar meses para chegarem no ponto.
A mesma situação acontece com Stranger Things e Bridgerton. Ambas são séries caras e que passam por longos processos de pré e pós-produção. (Importante dar uma colher de chá para Stranger Things, que teve sua produção impactada pela greve dos roteiristas no ano passado).
Agenda cheia
Com menos episódios e, consequentemente, menos tempo de gravação, as séries de TV estão chamando a atenção de atores e atrizes famosos do cinema. Alguns exemplos incluem The Morning Show (com Jennifer Aniston e Reese Witherspoon) e Yellowstone (com Kevin Costner).
O contrário também acontece. Nomes que ficaram famosos em séries começam a ganhar grandes papéis nos cinemas, como Rami Malek (Mr. Robot) no filme Bohemian Rhapsody ou Bob Odenkirk (Better Call Saul) no indicado ao Oscar, The Post.
O problema, nesse caso, é a dificuldade de conciliar a agenda. Nesse sentido, rumores em Hollywood apontam que Euphoria vem passando pelo problema, já que a maioria do elenco principal já está envolvido em outros projetos.
Aparentemente, gravar produções de TV com nomes famosos da indústria é tão difícil quanto marcar um rolê com seus amigos adultos.
Mas e aí, você prefere séries mais curtas ou mais longas? E qual série você não agenta mais esperar?