Zenless Zone Zero encanta com seu estilo e ação satisfatória – Review

É muito inconcebível a ideia de que, em pouco mais de um ano, a HoYoverse está prestes a emplacar mais um grande sucesso no mundo dos jogos como serviço. Mas é exatamente esta a conclusão após mergulhar a fundo no mundo de Zenless Zone Zero, o mais novo RPG de ação e fantasia urbana da desenvolvedora de Genshin Impact e Honkai: Star Rail.

A convite da empresa, o Voxel teve a oportunidade de visitar a Nova Eridu, metrópole onde a nova aventura se passa, e conhecer na prática todas as novidades do título com bastante calma, em uma versão praticamente idêntica à de lançamento. Vale lembrar que o título chega gratuitamente nesta quinta-feira, 4, com versões para PC, PlayStation 5 e dispositivos móveis.

Na Brasil Game Show do ano passado, as impressões iniciais já tinham sido bastante positivas, embora muitos detalhes ainda estivessem nebulosos. Agora, apenas tivemos a confirmação de como Zenless Zone Zero entrega não apenas uma construção de mundo instigante, mas também um sistema de combate que é fácil de aprender e fica cada vez mais aprazível conforme exploramos as características de cada personagem.

Ficou curioso para saber mais? Então confira, nas linhas a seguir, a análise completa de Zenless Zone Zero, realizada com a versão de PC do game.

Um pouquinho da história

Para contexto, o jogo se passa na cidade de Nova Eridu, que é a última metrópole da humanidade após o surgimento de uma catástrofe sobrenatural chamada de Esferas Negras. Por serem ricas em Éter, as esferas atuam como uma espécie de distorção dimensional, transformando seu interior em labirintos e provocando mutações em quem estiver lá dentro, dando origem aos Etéreos.

Apesar da natureza caótica das Esferas Negras, o motivo pelo qual a Nova Eridu prosperou é o fato de a população ter aprendido a extrair recursos desses ambientes inóspitos. Tornou-se comum a prática de enviar agentes para explorar as ruínas da antiga metrópole e várias facções surgiram com a intenção de angariar fundos para sobreviver — afinal de contas, o sistema capitalista persiste.

Sob essa premissa, o jogador assume o controle de um personagem conhecido como Proxy, que é o único profissional capaz de instruir e guiar os agentes para a saída das Esferas Negras. É como se fosse um hacker, que se utiliza de um robô fofinho, chamado de Bangboo, como uma espécie de comunicador remoto. Aqui, o Proxy é representado nas figuras dos irmãos Belle e Wise, que trabalham juntos e são os melhores da sua categoria: os Paethon.

A história de Zenless Zone Zero agrada com personagens carismáticos e qualidade de escritaA história de Zenless Zone Zero agrada com personagens carismáticos e qualidade de escritaFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Sem entregar muito, vale dizer que o enredo traz vários mistérios, que envolvem sobretudo a origem desconhecida da calamidade, a Esfera Zero, que teria engolido a antiga casa da dupla de protagonistas — a Eridu original.

De alguma forma, eles também acabam envolvidos com grupos influentes e perigosos de Nova Eridu durante as comissões, descobrindo conspirações, esquemas de corrupção e até mesmo uma inteligência artificial de última geração que se instala clandestinamente na sua base de operações — uma aconchegante locadora de filmes.

A história é algo que deve maturar com as próximas atualizações de Zenless Zone Zero, com o terceiro capítulo chegando em breve, mas ela já deixa uma impressão muito positiva com seus arcos iniciais, qualidade de escrita e apresentação visual, que mistura diálogos com modelos renderizados em tempo real e belíssimas artes que remetem a histórias em quadrinhos.

As cenas cinematográficas também chamam a atenção com suas animações fluidas, e o elenco de personagens é bastante carismático. A temática urbana também é algo que salta aos olhos e diferencia o jogo dos demais títulos da HoYoverse, acertando em cheio na trilha sonora e design de personagens.

Três pilares de gameplay

Desde o início, Zenless Zone Zero é promovido como um RPG de ação em tempo real e com combates muito frenéticos. No entanto, o que pouco se sabe é que essa se trata de apenas uma fração da estrutura de gameplay, que traz também: momentos de exploração em que interagimos com NPCs e até mesmo estreitamos o relacionamento com personagens; e expedições que se passam em uma espécie de jogo de tabuleiro.

Os modos de jogo são acessados através do Interlaço, localizado na base de operações dos protagonistasOs modos de jogo são acessados através do Interlaço, localizado na base de operações dos protagonistasFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Nos momentos de exploração, controlamos somente a personagem Belle nas ruas de Nova Eridu. Desta forma, podemos visitar lojas, comprar itens, descobrir baús, desvendar missões secundárias e aceitar comissões. Há até mesmo um sistema de passagem do dia, em que algumas lojas e NPCs ficam disponíveis apenas se estiver de tarde ou noite, por exemplo.

Dependendo do relacionamento do jogador com seus agentes, conquistados no sistema de gacha, eles também podem aparecer na vizinhança para interação. É possível até mesmo convidá-los para encontros, na tentativa de estreitar a amizade e destravar recompensas. É um momento mais tranquilo do loop de gameplay e que permite sentir seu universo como ele realmente é.

A exploração das Esferas Negras se dá em um jogo de tabuleiros, em que o jogador passeia por casas e se depara com eventosA exploração das Esferas Negras se dá em um jogo de tabuleiros, em que o jogador passeia por casas e se depara com eventosFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Já as expedições podem ser uma verdadeira quebra de ritmo e dividir opiniões. Elas são uma parte fundamental da história, já que consistem na exploração das Esferas Negras, e funcionam basicamente como um jogo de tabuleiro. A ideia é que o jogador passeie por painéis, que funcionam como casas, e trace um caminho até os seus objetivos no controle de um Bangboo.

Por vezes há quebra-cabeças no caminho, que envolvem empurrar objetos, ou até mesmo eventos de combate, que colocam o jogador em tempo real no controle da sua equipe de agentes. Os tabuleiros são contextualizados com o que acontece na história, então sempre é possível se deparar com situações inusitadas.

O principal ponto da crítica é que esse segmento de tabuleiro pode demorar bastante, e não é particularmente algo divertido de assistir quando pensamos na comunidade de criadores de conteúdo. Mas que fique claro: ele não é um elemento ruim da jogabilidade. É apenas… diferente. Logo, pode não corresponder às expectativas.

Combate refinado e fácil de aprender

Mas é claro que Zenless Zone Zero brilha mesmo no seu sistema de combate, que coloca os jogadores no controle dos seus agentes. A princípio, há cerca de 17 personagens jogáveis e todos têm seus próprios estilos de gameplay, estatura corporal e particularidades — como um atributo elemental e especialidade.

O nível de detalhe e carinho empregado no elenco é tão grande que até mesmo os personagens mais básicos, de Rank A, chamam a atenção com seu conjunto de habilidades, qualidade dos modelos e animações. É muito difícil de diferenciá-los dos agentes de Rank S, que equivalem aos personagens de cinco estrelas dos títulos anteriores.

As mecânicas de batalha remetem a um character action convencional, mas sem os combos aéreos porque não há uma mecânica de pulo. Em resumo, os agentes têm acesso a um ataque básico, esquiva (que dá acesso a um contra-ataque no momento certo), um especial aprimorável, um supremo e um botão de troca de personagem — que funciona como parry, se utilizado no momento correto, e coloca o próximo personagem da composição para desferir um ataque.

Os trechos de combate são lineares e relativamente curtos, mas são o ponto alto da experiência de Zenless Zone ZeroOs trechos de combate são lineares e relativamente curtos, mas são o ponto alto da experiência de Zenless Zone ZeroFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Os combates são muito focados nas mecânicas de troca de personagens, especialmente por funcionarem como uma técnica defensiva. Conforme o jogador aumenta a barra de atordoamento dos inimigos, é possível realizar os chamados Ataques em Cadeia, em que o próximo agente da composição entra em cena com uma técnica especial. São combos de tirar o fôlego e que deixam a experiência muito intensa.

O mais interessante do gameplay é que ele é muito acessível para iniciantes: é perfeitamente possível se divertir apenas apertando botão e vendo animações bonitas na tela. No entanto, os agentes têm muitas particularidades de gameplay que recompensam os jogadores que se aprofundarem minuciosamente nas suas builds — entendendo mecânicas, investindo em equipamentos corretos e maximizando seu potencial.

Os agentes de Zenless Zone Zero chamam a atenção com seus estilos e arquétipos únicosOs agentes de Zenless Zone Zero chamam a atenção com seus estilos e arquétipos únicosFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Durante os testes, também tive a impressão de que o jogo não é tão restritivo quanto às composições de equipe. Em jogos como Genshin Impact e Honkai: Star Rail, é fundamental selecionar personagens sinérgicos, limitando o jogador a configurações específicas de times, especialmente em conteúdos end-game. Já em Zenless Zone Zero há mais liberdade para escolher os personagens que você realmente quiser, já que eles parecem menos dependentes dos seus companheiros.

É muito satisfatório de controlar os personagens, e mais ainda de executar as esquivas perfeitas e parries. Todo o design de áudio também colabora para intensificar as sensações de impacto, sem contar que os agentes são tão bem-desenhados que incentivam a testar um por um.

Os inimigos de Zenless Zone Zero são variados e seus chefes, bastante desafiadoresOs inimigos de Zenless Zone Zero são variados e seus chefes, bastante desafiadoresFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Algo que pode decepcionar, no entanto, é que os trechos de combate são bastante lineares. A ideia é ir do ponto A ao ponto B e matar os inimigos que surgirem no objetivo, e isso pode acabar bem rápido. Por vezes, a missão coloca o jogador para proteger um ponto de controle de hordas de inimigos, mas não há muita variedade de atividades neste primeiro momento.

Isso pode ser um pouco frustrante porque os combates são o único momento em que o jogador controla, de fato, os agentes que conquista no sistema de gacha. Isso é diferente dos títulos anteriores que permitiam controlar seus personagens favoritos livremente em momentos de exploração, por exemplo.

Apesar disso, é muito claro como a HoYoverse se dedicou bastante para criar mecânicas satisfatórias e divertidas. É muito impressionante como o estúdio consegue proporcionar experiências de altíssima qualidade, ainda que envelopadas por sistemas de gacha que têm a fama de serem predatórios. É nítido que existe um videogame ali, não é apenas mais um produto focado em extrair dinheiro de um público mais engajado.

Também chama a atenção o fato de que há bastante variedade de inimigos e que vão além dos Etéreos, que são criaturas mutantes. Esse é um ponto que tinha desagradado na primeira vez que tive a oportunidade de experimentar o jogo no ano passado, mas agora o jogo sempre apresentou diferentes tipos de adversários, desde os mais comuns a chefes que realmente exigem uma atenção ao padrão de ataques.

Direção artística e localização

Como mencionei, Zenless Zone Zero aposta em uma temática urbana e essa foi sem dúvidas a decisão mais acertada para valorizar sua direção artística. E eu digo isso não só como uma forma de elogiar os cenários e as decisões de design dos personagens, mas também a interface de usuário.

É fundamental que um jogo como serviço apresente menus chamativos e bem-feitos, de modo que seja satisfatório resgatar suas recompensas e realizar atividades diárias. Dito isso, Zenless Zone Zero traz a melhor interface já criada pela HoYoverse, pois tudo conversa perfeitamente com a temática urbana e é muito estiloso.

As ruas de Nova Eridu passam a sensação de que o universo do jogo é vivo, com muitas lojas e atividadesAs ruas de Nova Eridu passam a sensação de que o universo do jogo é vivo, com muitas lojas e atividadesFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

O jogo também se preocupa em introduzir suas funções e liberar menus a passos lentos, na tentativa de habituar o jogador à navegação. É natural que o jogo apresente uma overdose de informações conforme o progredimos na história e aumentamos o Nível de Interlaço, mas existe uma preocupação em guiar o usuário pela mão. Portanto, por mais que pareça intimidador, o jogo dá o tempo que for necessário para se acostumar.

O jogo também chega com textos localizados em português do Brasil, que seguem o padrão de títulos anteriores da desenvolvedora. É comum se deparar com frases desnecessariamente longas e confusas, além de algumas traduções equivocadas. Por exemplo, o jogo traz a indicação “concluir” em missões que, na verdade, já foram concluídas. Também é comum o uso equivocado de pronomes.

Vale a pena?

Zenless Zone Zero é um reflexo do excelente momento da HoYoverse, que demonstra mais uma vez o seu potencial em criar mundos envolventes. É um jogo que agrada não apenas esteticamente, mas também nos seus sistemas de gameplay, que são os mais satisfatórios já concebidos pela desenvolvedora.

O seu rol de personagens carismáticos também é um dos destaques, e as formas que o jogo oferece para interagir com eles e conhecer mais das suas histórias passam a impressão de mergulhar em um universo vivo e pulsante. Tudo isso é ainda mais aconchegante com o trabalho primoroso na trilha sonora e direção artística, que se inspira bastante na cultura de rua.

Ainda assim, o jogo é um gacha e replica algumas manias dos títulos anteriores, como por exemplo o sistema de “artefatos” e atributos aleatórios, que podem causar muita dor de cabeça a longo prazo na hora de equipar os personagens. Por sorte, é um jogo muito convidativo para iniciantes e que não é exigente na hora de compor equipes, dando liberdade para que o jogador experimente e se expresse como quiser.

Alguns sistemas também podem representar uma quebra de ritmo, como por exemplo a exploração das Esferas Negras que se passam em um jogo de tabuleiros. No entanto, é muito bem-vindo como Zenless Zone Zero aposta em diferentes formas de interagir com o seu mundo e, por isso, deve cativar uma nova comunidade.

Não restam dúvidas de que o jogo será mais um grande sucesso e este pontapé inicial, que já está cheio de conteúdo e personalidade, denota a importância que o título tem para a desenvolvedora. O investimento é tão pesado que chega a ser palpável, então há muita expectativa para o que está por vir nas próximas atualizações. No mais, o jogo é gratuito, então fica a recomendação para baixar e experimentar.

Nota do Voxel: 90

Pontos positivos (prós):

  • Direção artística e ambientação urbana;
  • Qualidade das animações;
  • Variedade de conteúdo e estilos de gameplay;
  • Sistema de combate muito prazeroso;
  • Personagens carismáticos.

Pontos negativos (contras):

  • O sistema de tabuleiro é um pouco arrastado;
  • Sistema de Discos, que equivale aos Artefatos, pode ser frustrante;
  • Alguns problemas de tradução em português do Brasil.

A análise de Zenless Zone Zero foi realizada em acesso antecipado com duas contas fornecidas pela desenvolvedora: uma iniciante e outra mais avançada, a fim de experimentar os conteúdos end-game. O título chega gratuitamente nesta quinta-feira (4) para PC, PlayStation 5 e dispositivos móveis.

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