Um iceberg gigantesco medindo 380 quilômetros quadrados de extensão se separou recentemente da plataforma Brunt, uma extensa geleira milenar da Antártica, situada na costa oriental do Mar de Weddell. Chamado de “parto de iceberg” (calving, em inglês), o fenômeno ocorre quando blocos de gelo se separam da geleira-mãe e passam a flutuar livremente no oceano.
Embora o calving seja parte natural do ciclo de vida das geleiras e plataformas de gelo em geral, o que preocupa aqui, além da magnitude, é a frequência com que tem ocorrido. Esse evento, envolvendo a seção A-83 da plataforma, é o terceiro de grandes proporções que ocorre na região nos últimos quatro anos.
O primeiro grande evento foi em 2021, quando a subdivisão A-74 (esses números são atribuídos pela Centro Nacional de Gelo dos EUA) se desprendeu do manto de gelo original. Mas, em janeiro de 2023, outro iceberg ainda maior se separou da Brunt: o A-81.
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Por que o iceberg se separa da geleira-mãe?
Dados de temperatura de brilho capturados pelo satélite Landsat 8.Fonte: ESA/USGS
A observação desses eventos por satélites, como o Copernicus Sentinel-1 da ESA e o Landsat 8 da NASA, que fornecem, respectivamente, imagens de radar e dados térmicos, permite que os cientistas acompanhem, em tempo real, a integridade estrutural das plataformas de gelo. Isso ocorre até mesmo durante a chamada Noite Antártica, quando o Sol desparece por seis meses.
Em seu trabalho rotineiro, os glaciologistas avaliam os impactos do aumento das temperaturas atmosféricas e oceânicas na dinâmica do gelo, Partos como o da A-83 são causados pelo enfraquecimento das chamadas ondulações de gelo McDonald, um conjunto de elevações do leito marinho de até 10 metros, que funcionam como uma “trava” para a plataforma.
Isso ocorreu devido à “rachadura do Halloween”, uma fissura gigantesca que se abriu na Plataforma de Gelo Brunt, em outubro de 2016. Com 200 km de comprimento e 50 metros de largura, a enorme fenda permite que partes da plataforma passem por cima das travas de gelo McDonald e flutuem livremente.
Quais as consequências da separação do iceberg A-83?
O iceberg que se soltou é maior do que Ilhabela (SP).Fonte: Getty Images
Indicação clara do aumento das temperaturas globais, a separação frequente de icebergs da Antártica levanta preocupações quanto à perda de gelo continental e seus possíveis impactos no planeta.
Além de liberar água doce para o oceano, elevando o nível global dos mares, a perda de gelo polar significa menos gelo disponível para refletir a radiação solar, o que resulta no aquecimento da água dos oceanos e, consequentemente, das temperaturas do planeta.
Por isso, a monitoração dos mantos de gelo polares é tão importante na elaboração de estratégias de adaptação e mitigação. Embora partos de iceberg sejam rotineiros, cada separação dessas fornece preciosos indicadores sobre o comportamento dos “amortecedores” que mantêm os mantos de gelo longe dos oceanos.
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