Por Crislaine Corradine* – O Dia Internacional das Mulheres é uma ocasião que nos convida a refletir sobre os progressos, desafios e a contínua busca por equidade e reconhecimento. Se pararmos para analisar, quase todas as nossas conquistas são recentes, diria jovens até. Nossa maior manifestação democrática, o voto, por exemplo, só se tornou obrigatório para o gênero feminino em 1965. Em 1932 fomos reconhecidas como eleitoras, mas era opcional, facultativo. Vieram outras batalhas. No mercado de trabalho, principalmente.
Num passado recente, era comum ver uma mulher passar seu dia dentro de casa, cuidando dos filhos, do marido. A busca pela autonomia fez com que nos virássemos em muitas para ocupar diferentes lugares – e provando sempre que somos capazes. O cenário mudou, mas tais mudanças ainda não foram para todas. Há muita ação para ser executada.
De acordo com um estudo publicado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), feito em 2022, a crise ocasionada pela pandemia da Covid-19 gerou um retrocesso de mais de uma década e um impacto negativo nas condições de trabalho das mulheres que vivem na América Latina e Caribe. A pesquisa mostra que, em 2020, foi registrada uma saída em massa de mulheres dos seus ofícios com a justificativa de precisarem se dedicar às tarefas domésticas.
No contexto deste estudo, a Secretária-Executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, enfatizou que “é urgente promover processos de transformação digital inclusivos que garantam o acesso das mulheres às tecnologias, potencializem as suas habilidades e revertam as barreiras socioeconômicas que estas enfrentam, de forma que fortaleça a sua autonomia econômica”.
A fala de Alicia demonstra como a crise agravou o que antes já era problemático. A promoção da inclusão digital é algo que nós, mulheres que atuamos no setor de tecnologia, lutamos diariamente. Nossos passos são dados visando não apenas nosso bem-estar e progresso na profissão, mas também o incentivo às mulheres que poderiam (e podem) investir suas carreiras neste mercado tão carente de mão de obra e liderança feminina.
Nossa reflexão vai além. Enxergamos nas meninas, fascinadas com o poder da revolução digital, o futuro da nossa profissão. Admiramos essas jovens e desejamos que trilhem seus caminhos. Fazemos isso de longe, quando seguimos quebrando as barreiras dos estereótipos de gênero na nossa área. Vale destacar, que a inclusão digital é de suma importância para todos, e nesse âmbito as mulheres estão inclusas.
Nos questionamos frequentemente como enfrentar a ausência da figura feminina no mercado, se o essencial não chega até ela. Se sua única opção é desconhecer suas aptidões e habilidades. Como estimular esse público, se, mesmo com total acesso à educação e uma boa formação, as portas estarão fechadas para que ela se torne uma líder no setor? São dois vieses distintos, mas que valem muito a reflexão no dia de hoje.
Afinal, de acordo com o estudo realizado, em 2021, pela Woman in Technology, em parceria com a empresa de recrutamento Michael Page, menos de 20% dos cargos das áreas de tecnologia no Brasil são ocupados por mulheres. A pesquisa aponta que em toda América Latina, nós, mulheres, desempenhamos menos de 30% dos cargos de liderança neste mercado. Essa análise, mostrou que 26% das empresas latino-americanas possuem programas para reter e atrair talentos do gênero feminino.
A representatividade feminina no setor de tecnologia e infraestrutura digital vai além da questão de equidade. Sua ausência ou participação como coadjuvante é uma perda sem precedentes para o campo da inovação e da transformação digital. É um aniquilamento da criatividade, afinal a troca de experiências entre diversos indivíduos, seja qual for o gênero, oferece ao segmento a oportunidade de se desenvolver e crescer. E é por isso que vejo, em dias como os de hoje, a importância de destacar iniciativas práticas que estão sendo tomadas para diminuir esse gargalo.
A Elea Digital Data Centers, plataforma de data centers sustentáveis com a maior capilaridade do Brasil, foi responsável pela sua segunda emissão de debêntures sustentáveis no final do ano passado. Pioneira no segmento de infraestrutura digital a emitir uma dívida atrelada à agenda sustentável, a Elea também firmou o compromisso de elevar em 40% o número de mulheres em cargos de liderança. Como diretora, atuando no setor de tecnologia, sei o quão difícil foi chegar até aqui. Portanto, vejo essa estratégia como algo imensurável e que atinge o presente e impacta no futuro.
Unir a educação ao acesso inclusivo e implementar medidas concretas de suporte com objetivo de promover o desenvolvimento feminino no mercado de trabalho são ações fundamentais para modificar o cenário atual. Ao transformar a estrutura social à qual estamos habituados, nos tornamos agentes de mudança, trazendo não apenas reflexão sobre o tema, mas também a profundidade e o respeito merecidos.
*Crislaine Corradine, Diretora de Suprimentos e ESG da Elea Digital Data Centers