Mariana YoShioka, diretora executiva de Engenharia, Tecnologia e Inovação, CTO da Hidrovias do Brasil
A Hidrovias do Brasil começa a colher frutos dos investimentos em IoT e inteligência artificial (IA) iniciados já em 2012, quando toda a frota de embarcações foram sensoreadas. Mariana Yoshioka, diretora executiva de Engenharia, Tecnologia e Inovação, CTO da Hidrovias do Brasil, diz que o objetivo inicial foi criar as bases para saltos futuros de inovação.
Hoje a empresa colhe diariamente diversos indicadores como consumo de combustível, condições das marés, e temperatura dos motores. Mas o maior ganho foi na segurança operacional do transporte de carga, em que a empresa tem conseguido prever os períodos de seca na região Sul, onde está Hidrovia Paraguai- Paraná e evitar encalhes.
“Em 2012, quando fizemos a sensorização sabíamos que um dia usaríamos as informações colhidas. São mais de 1 milhão de dados coletados sobre a velocidade da corrente do rio, a profundidade, se o motor está aquecendo, o consumo de combustível. Coletamos desde o início da operação da empresa com as primeiras oito barcaças e hoje estamos processando essas informações.
Os dados captados dos barcos estão sendo usados para otimizar o consumo de combustível e possibilitar uma navegação assistida. As embarcações também têm câmeras com reconhecimento facial que nos permite verificar se as pessoas estão usando os equipamentos de segurança corretos, se estão onde deveriam estar, aumentando a segurança da operação” conta Yoshioka.
Ela observa que a inteligência artificial veio com força, mas todos ainda estão procurando entender aonde ela se encaixa no dia a dia da companhia. Antes mesmo de assumir o cargo de CTO, Mariana já comandava a área de inovação e entende que a inteligência artificial deve ser usada para resolver problemas da corporação.
“Temos comissões internas de tecnologia, conversamos com os operadores, supervisores e gerentes. Nesses comitês, eles colocam as dores da operação e a área de inovação e tecnologia avalia o que tem de insumo e como pode trabalhar a solução. Encontramos um caminho com a inteligência artificial voltado para dores. Muitas empresas erram ao usar a inovação pela inovação. Nós usamos para curar as dores”, diz a CTO.
Atualmente uma das maiores preocupações do transporte aquaviário é o impacto climático, especialmente os efeitos da la Niña, que nos últimos dois anos afetou bastante as operações da companhia. Esse efeito climático seca os rios e, com isso, a empresa tem de carregar menos as barcaças para ter menos profundidade e poder assim navegar.
“Desde 2012, nossos barcos já têm um calado baixo, o menor da região Sul. Já chegamos a ser responsáveis por 90% do transporte de minério, porque só a Hidrovias do Brasil conseguia passar nos rios. Só que com a La Niña, a previsibilidade é menor. O transporte de Corumbá até a Argentina leva em torno de 30 dias. Mas é preciso saber quanto vai estar o calado do rio quando passarmos por um gargalo, 15 dias depois. É preciso acertar na previsibilidade pois, caso contrário, podemos ser muito conservadores e levar menos carga do que poderia ser viável e com isso imputar mais custos ao cliente e ser menos produtiva, ou levar carga demais e correr o risco de encalhar”, explica Yoshioka.
No ano passado, enquanto as embarcações de diversas empresas ficaram encalhadas, a Hidrovias do Brasil conseguia prosseguir nas suas viagens devido a uma solução de inteligência artificial batizada de “irupê”. Trata-se de uma planta nativa da região, cuja lenda conta que os nativos conseguiam prever o clima da região de acordo com a florada.
“Existem réguas ao longo de todo o rio que indica o nível das águas. Temos informações de 100 anos dessas réguas. Esses dados são captados por robôs e colocados numa aplicação de IA que faz uma previsão sobre o que vai acontecer em sete, 15 ou 30 dias. Para 15 dias, conseguimos prever como estará o calado e qual o nível ótimo da carga. Toda a aplicação é baseada nos dados de El Niño e La Niña e, com isso, temos conseguido uma assertividade de 2 cm, que é fantástica”, explica a CTO.
Ela diz que a plataforma está em constante aprimoramento. Agora estão sendo agregados dados de previsão de chuva em outro projeto de IA. Ao lado da Wilson Sons, Porto do Açu e Radix, a Hidrovias do Brasil integra o Cubo Maritime & Port, primeiro hub focado em tornar as operações portuárias e o transporte aquaviário de carga na América Latina.
ShipTechs
O segmento das shiptechs conta com mais de 500 startups desenvolvedoras de soluções de eficiência tecnológica ao redor do mundo. No Brasil, esse mapeamento mostra não mais do que 20 startups atuando diretamente no setor, um número ainda baixo perto do potencial de mercado e dos desafios apresentados pelo segmento.
Como mantenedora do hub Marítimo e Portuário do Cubo a empresa tem uma série de iniciativas desenvolvidas por startups, como a de previsibilidade de chuvas. “No nosso projeto de IA, o fundamental foi ter conhecimento das dores e procurar solucioná-las. Outro ponto é poder ter parceiros. Abimos o projeto no Cubo já estamos vendo um saldo ainda maior”, observa Marina.
Agora com as inovações da IA generativa, a empresa quer usar IA para aumentar a produtividade na gestão e consulta de documentos, para apoiar os processos operacionais.
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