Fernanda Robin – Gerente executiva da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva.
Duas clínicas de reprodução vêm utilizando inteligência artificial (IA) para apoiar o trabalho de embriologistas, auxiliando de maneira mais precisa na seleção do melhor embrião ou dos óvulos e, com isso, aumentar a taxa de sucesso para gerar a gravidez por meio da fertilização in vitro (FIV). A Huntington Medicina Reprodutiva desenvolveu o MAIA (Morphological Artificial Inteligence Assistance) sistema desenvolvido em 2019, visando a identificar com mais eficácia o embrião com maior potencial de gerar uma gestação, aprimorando essa escolha. A Nilo Frantz Medicina Reprodutiva faz “match” entre pacientes e doadoras para que os bebês possam nascer mais parecidos com os pais
O responsável técnico e fundador da Huntington Medicina Reprodutiva, Dr. Eduardo Motta, explica que a Huntington Medicina Reprodutiva é uma das pioneiras no uso de incubadoras com tecnologia time-lapse, um sistema de captação de imagens que avalia a velocidade e a forma do crescimento dos embriões, gerando um volume de informações que o olho humano não é capaz de analisar pela alta quantidade de informações que são geradas.
“A Inteligência Artificial veio para refinar os dados obtidos pelas incubadoras time-lapse. Assim ao introduzir uma série de informações prévias sobre cada caso e, lá na frente, filtrar esses resultados de acordo com parâmetros já estandardizados, é viável que venhamos a selecionar com mais assertividade o embrião de melhor potencial para a gestação”, diz Motta.
Ele explica que o uso da nova tecnologia para aperfeiçoar a seleção de embriões para fertilização in vitro (FIV) surgiu há cinco anos, quando os pesquisadores Marcelo Fábio Gouveia Nogueira e José Celso Rocha, do Departamento de Ciências Biológicas da Unesp, campus de Assis (SP), começaram a testar a viabilidade do uso de Inteligência Artificial na análise de embriões humanos obtidos através da FIV.
Uma das metodologias empregadas para o desenvolvimento do sistema MAIA são as chamadas redes neurais artificiais, em que uma série de parâmetros coletados a partir das imagens dos embriões são processadas numericamente, como por exemplo a área do embrião, área da massa celular interna (região que dará origem ao feto), entre outros relevantes. “O processamento destes dados obtidos por meio de inteligência artificial irá permitir que o sistema classifique os embriões de maior ou menor potencial reprodutivo de cada paciente”, explica o pesquisador Marcelo Fábio Gouveia Nogueira.
Sistema customizado
O MAIA, sistema de IA da Huntington Medicina Reprodutiva, foi customizado, abastecido e treinado a partir de seu próprio banco de dados, que contém milhões de imagens de referência. “Teoricamente a IA foi treinada por embriologistas, então sua resposta deve ser boa também. Portanto, um sistema que compreendesse cinco redes neurais artificiais seria o equivalente a ter cinco ótimos embriologistas analisando o embrião”, diz o pesquisador José Celso Rocha.
Para o diretor de embriologia da Huntington Medicina Reprodutiva, Dr. José Roberto Alegretti, essa customização da IA para cada grupo de pacientes é muito importante. “Por mais que a reprodução assistida tenha aspectos muito comuns ao redor do mundo, cada laboratório tem suas peculiaridades, devido à população, as diversas causas de infertilidade, a forma de trabalho pelas equipes, os insumos que são usados, entre outras variáveis. Ter algo customizado favorece a intepretação dos dados e, consequentemente, o paciente”, avalia.
Em busca de doadoras semelhantes
No Brasil, a Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, em São Paulo, já utiliza IA por meio de um software de reconhecimento facial que tem como intuito facilitar procedimentos de ovodoação e fertilização in vitro juntando pacientes e doadoras que possuam características em comum.
Fernanda Robin, gerente executiva da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva, explica que a ovodoação é um tratamento para fertilização in vitro em que é preciso usar óvulos doados de outra mulher para mulheres diferentes que têm insuficiência ovariana. Os óvulos provenientes de mulheres mais jovens são fertilizados pelo sêmen do marido e transferidos para o útero da mulher com insuficiência ovariana.
“A inteligência artificial nos auxilia na comparação entre a pessoa que está recebendo o óvulo e a que está doando. Por meio de duas fotografias produzidas especialmente para nós, um aplicativo de reconhecimento facial gera um algoritmo para fazer os matches. Para isso colocamos as características fenotípicas da paciente – peso, altura, cor de olhos, cor de cabelos – as duas fotos para que o aplicativo possa fazer medições da paciente. A inteligência artificial do app, para o processo de fertilização, consegue verificar no rosto a distância entre os olhos, da boca, o tamanho do maxilar, e entre outras áreas que chegam em torno de mil pontos medidos”, explica Fernanda Robin.
O aplicativo gera um relatório de compatibilidade entre as pacientes doadoras, e a partir daí olhamos a paciente como uma possível candidata de óvulos à outra com incapacidade ovariana. “Quando a mulher abandona seu gameta próprio, há um deseja de semelhança física no futuro filho. Isso ocorre devido à medo da sociedade, de como o filho vai ser visto e também pelo desejo de se enxergar no filho após o nascimento”, explica Robin.
Ela acrescenta que as medições aliadas com as características fenotípicas colocadas dentro do aplicativo geram um algoritmo que fica armazenado no banco de dados e conforme novos cadastros de pacientes são aprovados para fazer o compartilhamento dos óvulos, há uma comparação entre as categorias das doadoras com a categoria das receptoras.
“Feita essa comparação, o aplicativo faz os “matches” que são as comparações entre as doadoras e as receptoras e gera um grau de compatibilidade que varia entre 50, 60, 70% de compatibilidade. A partir dessas características fenotípicas, então, e desse match do percentual de semelhança, agregado a outros critérios, como fotos familiares, é que fazemos então o match final pela paciente”, afirma a especialista.
Ela conta que o app de reconhecimento facial foi desenvolvido há sei anos e permaneceu em testes por dois anos antes de ser adotado no processo de fertilização. A empresa atender de 60 a 70 consultas por mês e 70% a 80% fazem reprodução assistida in vitro. “A tendência é de crescimento exponencial muito motivada pela postergação da maternidade e às doenças que levam a uma insuficiência ovariana precoce”, estima Robin.
Ela destaca que, de acordo com a legislação brasileira, as doações não podem envolver trocas financeiras, o que pode haver é compensação no custo do tratamento, como a oportunidade de congelar seus óvulos com custos mais baixos.
“As doadoras são pacientes até 32 anos com potencial de doação de óvulos, além das que procuram a clínica por infertilidade masculina; e as doadoras altruístas, que fazem a doação apenas para ajudar, trazidas por outros casais para terem redução de custos do tratamento. O compartilhamento é feito dentro deste universo”, diz Robin.
A clínica acredita que as novas tecnologias, principalmente aquelas envolvendo IA ainda precisam do olhar humano para refinamento, principalmente por envolverem vidas e sonhos daqueles pais. Por isso o aplicativo compõe o leque de ferramentas utilizadas para que o pareamento entre doadora e receptora seja o mais preciso possível.
O post Clínicas já usam IA para fertilização in vitro apareceu primeiro em TeleSíntese.