“Nosso projeto é nacional”, afirma Matsunaga, CFO da EB Fibra

Felipe Matsunaga | Credito: Divulgação
Felipe Matsunaga | Credito: Divulgação

Felipe Matsunaga, CFO do EB Fibra, e sócio do fundo EB Capital, diz que os planos do grupo, depois de ter captado R$ 1,5 bilhão, é atuar nacionalmente e tornar-se o primeiro em market share de acessos FTTH (fibra óptica na residência) até o final do ano, depois das grandes operadoras. A trajetória do grupo começou, nesse segmento, comprando a operadora com sede em Carmo, no interior do Rio de Janeiro, a Sumicity, e, no ano passado, a Mob Telecom, no Ceará. Essas duas empresas são as líderes das estruturas regionais do grupo, que também abre ainda uma regional na região Sul do país e outra em São Paulo, para onde foi deslocada a equipe da Sumicity, inclusive o CEO, Fábio Abreu.

Para construir tal estratégia, afirma Matsunaga nessa conversa com o Tele.Síntese, haverá algumas aquisições de ISPs, mas o objetivo mesmo é crescimento orgânico das operações. E quanto ao leilão do 5G: “continuamos estudando, mas sabemos que o preço está bem salgado”, afirmou. Leia aqui os principais trechos da entrevista:

Um balanço da trajetória do EB Capital e da EB Fibra?

Felipe Matsunaga – Desde de 2016, temos olhando bastante o mercado. O primeiro investimento que realizamos foi na Sumicity [ operadora que iniciou atuação no estado do Rio de Janeiro, sul do Espírito Santo e Zona da Mata de Minas Gerais].E ela foi o primeiro “case” de sucesso, onde aprimoramos o processo e percebemos que tínhamos um projeto, não de uma única companhia, mas algo mais estruturado, de alcance nacional. E ficamos muito satisfeitos com o resultado. Pois foi uma das empresas que mais cresceram no ano de 2020, dobrando base de assinante, dobrando receita, dobrando Ebitda. Ou seja, um grande caso de sucesso. Muito apoiada pelo Vicente [ Vicente Gomes, criador da operadora]. A partir dessa experiência, constatamos que daria para fazer um negócio estruturado nacionalmente. Então, fizemos um “round” para levantar dinheiro, onde conseguimos a captação dos investidores privados e da XP, de mais de R$ 1 bilhão, captação que se concluiu em 2020.

E partiram, então, para a aquisição da Mob Telecom?

Sim. A Mob foi nosso segundo investimento. E, a partir dela, consolidou a nossa convicção de um projeto nacional. E a Mob é outro case de sucesso. Antes, ela tinha  muito foco em B2B e agora está fazendo grandes investimentos em B2C. E está indo super bem. Compramos também recentemente um ISP em Mauá, São Paulo, a Vip; e dois ISPs em Minas Gerais, a Click e Univox, no início do ano.

Como se estrutura projeto nacional de vocês?

Temos uma Regional Norte/ Nordeste, liderada pela Mob e outras empresas que estão no pipeline para serem investidas/adquiridas. A Regional Sudeste, liderada pela Sumicity, onde estamos crescendo o backbone para fora da área original do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Fizemos um recente investimento em uma empresa em São Paulo, chamada Vip Telecom, que fica na cidade de Mauá. Esse investimento foi feito também pela Sumicity. E criamos uma outra regional para a Região Sul. Mas teremos mais uma regional, voltada exclusivamente para o mercado de São Paulo, que é muito grande. E o time que estava tocando a Sumicity já se deslocou para São Paulo. O Fábio [ Fábio Abreu] já está no estado, para imprimir um ritmo de crescimento para São Paulo. Com isso, o Alê está tocando agora a Sumicity. E, com esse projeto, o Pedro Parente passou a ser o CEO e Chairman da EB Fibra, o que é realmente um grande diferencial, e eu sou o CFO.

Terão quatro regionais?

A princípio sim, com São Paulo podendo ser incorporado, no futuro, à regional Sudeste, dependendo do tamanho que a gente ficar no estado. E vamos aplicar muito dinheiro nessas companhias e essas empresas têm o dever de casa de crescer organicamente. A nossa proposta é: a partir do inorgânico, é crescer organicamente. Em nenhum momento iremos comprar empresa que não precisamos comprar, que está andando de lado ou que não tem potencial de crescimento. As empresas que investimos têm que ter potencial de crescimento. E há ainda muito espaço para isso. Sejam nossas empresas, sejam outros grupos e outros fundos que também estão fazendo um brilhante trabalho. O Brasil é muito grande.

Como você avalia o movimento das grandes operadoras na construção das redes neutras? É uma ameaça para a estratégia de vocês?

Sempre é um novo cenário. Essas operadoras têm muito poder, particularmente a Oi, que tem uma capilaridade de rede enorme. Mas acredito que este movimento poderá nos ajudar em cidades onde não estamos. A nossa operação é toda calcada em fibra óptica. Já temos  mais de 70 mil quilômetros de backbone. Mais de 110 mil quilômetros de backhaul e rede. Essencialmente, as nossas empresas têm redes próprias, metro, e bakcbone. Mas nada impede que eu entre numa cidade pela Oi ou outra qualquer. Ela pode nos ajudar, mas hoje, no nosso projeto, não está previsto crescimento através de InfraCo. Queremos o crescimento orgânico através de nossas próprias redes.

Mas esse movimento não pode arrefecer a estratégia de aquisição de ISP?

Acho que não. Primeiro, porque avalio que somente os pequenos ISPs, que têm, digamos assim, uma estrutura tributária mais eficiente, poderiam ser clientes. Para empresas como as nossas, com estrutura tributária mais robusta, a conta fica bastante apertada. E aí, a gente sabe que já existe muito ISP e muita fibra óptica, ou seja, um  mercado altamente competitivo. Esse modelo de rede neutra poderia até ajudar a trazer novos ISPs, mas já se enfrenta um mercado muito competitivo, e a dinâmica de mercado, para nós, muda pouco.

Mas não ameaça o negócio do ISPS?

Não, em hipótese alguma. Por que hoje já se compete com todo mundo. E a nossa atuação é em cidades pequenas, a exemplo de Carmo, no Rio de Janeiro, sede da Sumicity, com 18 mil habitantes, cidade onde a nossa empresa tem um market share relevante e ainda uns dois ou três provedores pequenos. Vai demorar muito para uma InfraCo chegar em uma cidade como essa ou em outras onde a gente tem rede. Elas vão chegar primeiro nas cidades Tier 1, e já é um investimento enorme, para depois chegar em cidades como as que atuamos. Há espaço para todos, na minha concepção.

Sempre se fala que fundo de investimento compra pra depois vender. Quanto tempo pretendem ficar no mercado de telecom?

É verdade que todo o fundo  tem prazo de investimento e desinvestimento. Mas nós acabamos de fazer a captação de recursos. Temos bastante dinheiro para colocarmos, e não sairemos desse mercado tão cedo!

O que vocês buscam então com os R$ 1,5 bilhão que captaram?

Para nós, a aquisição é só um  meio para crescer. A gente acredita no crescimento orgânico. Além desse dinheiro, nós temos um nível de alavancagem ótimo. E temos alguns diferenciais. Queremos ter presença nacional, mas nosso foco é regional. Cada empresa regional tem absoluta liberdade para fazer tudo. O nosso segundo diferencial é que tem que estar calcado em backbone. E em nossas due diligence, buscamos sempre backbones robustos. Temos também uma tese forte de qualidade do serviço e total cumprimento das regras tributárias e da Anatel. E por fim, temos a missão de ser a maior empresa de FTTH do Brasil, depois das grandes.

Em quanto tempo querem ser a maior opção?

Pro Forma, diria que já somos, depois das grandes, os maiores.

Mas a  Brisanet, por exemplo,  passa as empresas de vocês em acessos..

Estou falando em FTTH.  A nossa banda larga é 100% fibra até a casa.

Quanto clientes vocês contam?

Pro forma, terminaremos este ano com 1,2 milhão de clientes de FTTH.

Mantém a estratégia de focar em cidades médias e pequenas?

Na verdade, o nosso foco é atuar nas cidades onde tem mais possiblidade de crescimento. Começamos com cidade Tier3

E o leilão do 5G? 

Assim como todos os outros fundos e ISPs, estamos estudando bastante. Mas estamos vendo uma conta salgada. Ainda não temos nada definido.

Não tem interesse nem no FWA (Fixed Wireless Acess)?

Estamos também estudando o FWA, mas também é uma conta difícil de fechar. Achamos que a tecnologia pode ser complementar aos serviços que prestamos. Mas o que temos certeza é que nós temos muita fibra, e muita fibra metro e, por isso, acreditamos que seremos alavancados pelo 5G. Seja pela fibra que temos, seja entrando na mobilidade ou fazendo FWA.

 

 

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